Eu Sou o Que Vive
Eu sou o que vive; estive morto, mas eis que estou vivo para todo o sempre (Ap 1:18)
Cristo triunfou sobre a morte. Ele vive e compartilha essa vitória com todos os que n’Ele confiam.
O imperador Domiciano considerou o apóstolo João, já idoso, uma ameaça ao Império Romano. Domiciano o exilou na ilha deserta de Patmos. Seu plano, porém, fracassou. João estava em êxtase no Dia do Senhor. Enquanto adorava, o Senhor Jesus Cristo se revelou a ele. De repente ele ouve atrás de si uma voz como de trombeta (Ap 1:10). Ao se virar, João contempla Aquele que é semelhante ao Filho do Homem, em toda a Sua glória celestial: vestes talares, cabelo branco como neve, olhos como chama de fogo, pés como bronze polido e voz como o estrondo de muitas águas (Ap 1:13-15). Na mão direita, sete estrelas; da boca, uma espada afiada de dois gumes; e o rosto brilhando como o sol em pleno meio-dia.
A reação de João é imediata e humana: ele cai aos pés de Jesus “como morto” (Ap 1:17). A santidade divina, em sua plenitude, é insuportável para um ser humano pecador. João, que outrora reclinara a cabeça no peito do Mestre na Última Ceia, que O vira transfigurado no monte, que testemunhara a cruz e a ressurreição, agora não suporta a glória do Cristo exaltado. Seu corpo desaba, seu coração talvez pare por um instante. O medo da morte, ou pelo menos o temor de ser consumido pela presença divina, toma conta dele.
Mas Jesus não o deixa prostrado no medo. Com ternura infinita, Ele estende a mão direita – a mesma mão traspassada na cruz – e toca João, dizendo: “Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, e o que vive; estive morto, mas eis que estou vivo para todo o sempre, e tenho as chaves da morte e do hades” (Ap 1:17-18).
Essas palavras são o coração da mensagem do evangelho. Jesus se apresenta com três títulos que revelam Sua identidade e Sua vitória absoluta.
Primeiro, “o Primeiro e o Último”. Essa expressão ecoa diretamente as declarações de Deus no Antigo Testamento: “Eu sou o Primeiro, e eu sou o Último, e além de mim não há Deus” (Is 44:6; cf. Is 48:12). Jesus está afirmando, sem rodeios, Sua plena divindade. Ele é o Alfa e o Ômega (Ap 22:13), o Eterno que existe antes de todas as coisas e permanecerá depois que tudo passar. Nada escapa ao Seu controle soberano. A história começa n’Ele e termina n’Ele.
Segundo, “o que vive”. O Vivente por excelência. Não apenas alguém que tem vida, mas Aquele que é a própria fonte da vida. Jesus já havia dito a Marta, diante do túmulo de Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim nunca morrerá” (Jo 11:25-26). Agora, na visão apocalíptica, Ele reafirma isso com autoridade absoluta: “Eu sou o Vivente”. A vida não Lhe foi dada; Ele é a Vida em Si mesma (Jo 14:6).
Terceiro, e mais impactante: “estive morto, mas eis que estou vivo para todo o sempre”. Aqui está o paradoxo glorioso do cristianismo. O Eterno, o Vivente, o Primeiro e o Último, entrou na história humana, assumiu carne frágil e morreu. Ele realmente morreu. Não foi uma morte aparente, não foi um desmaio, não foi uma encenação. O Cordeiro de Deus foi imolado. Seu coração parou, Seu corpo foi envolto em lençóis, colocado num túmulo selado e vigiado. A morte – consequência do pecado humano – O alcançou.
Mas a morte não pôde retê-Lo. Ao terceiro dia, Ele ressuscitou. O túmulo ficou vazio. Os lençóis permaneceram, mas o corpo não. Anjos anunciaram: “Por que buscais entre os mortos Aquele que vive?” (Lc 24:5). Mais de quinhentas pessoas O viram vivo (1Co 15:6). Ele comeu, falou, caminhou, deixou-Se tocar. A ressurreição não foi uma experiência espiritual subjetiva, mas um fato histórico concreto, com um corpo glorificado, real, mas livre das limitações da carne mortal.
E porque Ele ressuscitou, a morte foi derrotada para sempre. Paulo exclama triunfante: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo!” (1Co 15:55-57).
Jesus completa Sua declaração com uma frase de autoridade absoluta: “tenho as chaves da morte e do hades”. No mundo antigo, as chaves simbolizavam poder e domínio. Quem tinha as chaves de uma cidade controlava o acesso. Jesus está dizendo: a morte e o reino dos mortos (hades) estão sob Meu controle total. Ninguém morre sem Minha permissão. Ninguém permanece na morte se Eu decidir o contrário. Eu abro e ninguém fecha; Eu fecho e ninguém abre (cf. Ap 3:7).
Essa vitória não é apenas para Jesus. Ele a compartilha com todos os que n’Ele confiam. O cristão não precisa temer a morte. Hebreus 2:14-15 diz que Jesus Se fez homem “para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo, e libertasse todos os que, pelo medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão”.
Para o crente, a morte física é apenas uma passagem. Paulo a chama de “dormir” (1Ts 4:13), porque há um despertar glorioso. “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta”, os mortos em Cristo ressuscitarão com corpos incorruptíveis, e os vivos serão transformados (1Co 15:52). A morte será tragada pela vitória.
João, que caiu como morto diante da glória de Cristo, é o mesmo que escreveu: “Sabemos que já passamos da morte para a vida” (1Jo 3:14). O toque de Jesus transformou seu medo em adoração, seu desmaio em missão. Logo em seguida, o Senhor lhe ordena: “Escreve, pois, as coisas que viste” (Ap 1:19). O medo dá lugar ao testemunho.
Hoje, dois mil anos depois, a mensagem permanece a mesma. Diante das incertezas da vida, das doenças, das perdas, das notícias de morte que nos cercam, ouvimos a voz do Ressuscitado: “Não temas!”. Ele é o Primeiro e o Último. Ele é o Vivente. Ele esteve morto, mas vive para sempre. E porque Ele vive, nós também viveremos.
Que essa verdade penetre profundamente em nosso coração. Que o medo da morte perca seu poder sobre nós. Que vivamos com ousadia, com esperança, com alegria, sabendo que nosso futuro não é um túmulo frio, mas a presença eterna do Cordeiro que foi morto e agora vive para todo o sempre.
Cristo triunfou. Ele vive. E n’Ele, nós também vivemos.
Glória a Jesus! Amém.

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