DESIGREIJADOS


Muitos cristãos hoje estão decepcionados com a igreja e tentam permanecer cristãos sem pertencer a uma congregação local. Eles geralmente são chamados de "os não-religiosos". Alguns deles acreditam que é necessário deixar a igreja para encontrar Deus.


Concordo com alguns dos argumentos feitos pelos não-religiosos. A igreja cometeu muitos erros durante sua longa história. Dito isso, ainda não é certo seguirmos a Cristo enquanto voamos sozinhos. Jesus instruiu os discípulos a se organizarem em comunidades durante o período apostólico. Ele estabeleceu uma igreja.


A fé cristã, desde suas origens, sempre foi uma jornada coletiva. A imagem da igreja como "corpo de Cristo" (1 Coríntios 12:27) reforça a ideia de que os crentes não foram chamados para viver isolados, mas em comunhão. No entanto, nos últimos anos, cresce o número de cristãos convertidos que afirmam não precisar frequentar igrejas. Alegam motivos como decepções com líderes, hipocrisia institucional, ou até mesmo a crença de que podem cultivar uma espiritualidade autossuficiente. Embora algumas críticas sejam legítimas, a decisão de abandonar a igreja traz implicações profundas — espirituais, emocionais e sociais — que merecem reflexão.  Além disso há aqueles que querem jogar sua rebeldia, seus pecados nas “costas” dos líderes religiosos.Ou seja, querem culpar a igreja pelos seus erros. Será que Deus vai aceitar que as pessoas adotem a mesma atitude de Adão e Eva que terceirizaram seus erros.


Esses cristãos correm o risco da estagnação e da busca da autossuficiência. Muitos cristãos que deixam as igrejas argumentam que "Deus está em todo lugar" e que podem adorá-Lo individualmente. Embora isso seja verdade, a Bíblia enfatiza repetidamente a importância da **comunhão**. Em Hebreus 10:25, há um alerta claro: *"Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros"*. A ausência de um corpo coletivo pode levar a uma fé egocêntrica, onde o crente define suas próprias verdades, ignorando a correção fraterna (Provérbios 27:17).  


A espiritualidade solitária também tende a negligenciar **disciplinas coletivas**, como a Ceia do Senhor (1 Coríntios 11:26), a oração em grupo (Mateus 18:20) e a submissão a líderes espirituais (Hebreus 13:17). Sem essas práticas, há um risco maior de doutrinas distorcidas e de superficialidade na fé.  


Incorrem também a ausência de prestação de contas. A igreja funciona como uma rede de **responsabilidade mútua**. Quando alguém se afasta, perde o apoio de irmãos que o encorajam a perseverar, o confrontam em momentos de erro e o ajudam a carregar fardos (Gálatas 6:1-2). A solidão espiritual muitas vezes abre portas para tentações e dúvidas não resolvidas, já que não há ninguém para compartilhar lutas ou oferecer perspectivas diferentes.  


 Nessa solidão há na ausência de diversidade de dons. Paulo ensina que cada crente recebe dons espirituais *"para o bem comum"* (1 Coríntios 12:7). Quando alguém se isola, priva-se de contribuir com seus talentos e de receber os dons dos outros. Por exemplo, uma pessoa com dom de ensino não terá ouvintes para edificar, e quem precisa de cura ou profecia não encontrará quem ministre a ela. Incorrem no perigo do individualismo, com o isolamento, o cescimento espiritual é limitado, incompleto. A cultura moderna celebra a independência, mas o Evangelho propõe interdependência. Cristo não chamou discípulos para serem "ilhas", mas para formar uma **comunidade missionária**, aigreja.  Quem se afasta da igreja muitas vezes adota um cristianismo utilitário, onde Deus serve para resolver problemas pessoais, mas não para transformar relacionamentos ou servir ao próximo.  


Além disso, sem a convivência com pessoas diferentes — idosos, jovens, pobres, ricos —, o crente perde a oportunidade de desenvolver virtudes como paciência, humildade e amor sacrificial (João 13:34-35).  

 

A igreja é um "hospital para pecadores", não um clube de santos. A ausência desse ambiente pode levar a dois extremos: **Autocomplacência**: A falta de confronto amoroso permite que vícios, amarguras ou orgulho cresçam sem freio. Com o Legalismo autodirigido, alguns se tornam juízes de si mesmos, criando regras rígidas sem a graça que a comunidade oferece.  


Sem a pregação da Palavra e o discipulado, o conhecimento bíblico tende a ser superficial. Muitos acabam seguindo *"ventos de doutrina"* (Efésios 4:14), influenciados por modismos teológicos ou conteúdos online não filtrados.  

 

Por outro lado, a adoração coletiva tem um poder único. Salmos como o 133 destacam a bênção da união entre irmãos. Quando alguém se isola, sua adoração pode tornar-se mecânica ou emocionalmente dependente de circunstâncias. A oração, por sua vez, perde o vigor da intercessão mútua (Tiago 5:16).   


Pode afetar a família, mesmo na criação dos filhos.  Para famílias cristãs, a igreja é um suporte vital. Crianças que não frequentam comunidades de fé perdem exemplos de fé além dos pais, amigos cristãos e ensino bíblico estruturado. Isso pode gerar confusão identitária, especialmente em uma cultura que questiona valores cristãos.  


Essas pessoas ficam mais fragilizadas, pois as Igrejas também fornecem apoio prático em crises: doença, desemprego, luto. Quem se afasta perde acesso a essa rede, sobrecarregando relacionamentos familiares ou amigos seculares, que nem sempre compartilham os mesmos valores.  

 

Jesus disse que o amor entre os irmãos seria a marca do cristão (João 13:35). Quando alguém se isola, perde a chance de testemunhar, que é a unidade na diversidade, um contraponto ao individualismo moderno. Além disso, não participar de projetos missionários ou sociais da igreja limita oportunidades de servir ao próximo de forma organizada.  


Alguns alegam que a igreja está cheia de hipócritas. Pode ser verdade em parte. A igreja é formada por pecadores em processo de santificação. No entanto, o próprio Jesus incluiu Judas em Seu círculo íntimo. A igreja não é um museu de santos, mas um campo de redenção. Abandoná-la por causa de falhas humanas é ignorar que todos somos falhos e necessitados de graça.  Além do mais perdemos a oportunidade de ajudar os “fracos” com nosso bom exemplo.


Alguns, como já disse, alegam que podem adorar em casa. Sim, mas adoração doméstica não substitui a pluralidade de dons e a multiplicidade de vozes da comunidade. Até mesmo os monges contemplativos, como os do deserto, valorizavam encontros periódicos para correção e ensino.  

 

Abusos existem, mas a solução não é o isolamento, mas buscar aquelas que são saudáveis, onde líderes são servos (Marcos 10:43) e a Palavra é central.  


Deus não nos chamou para uma fé solitária, mas para uma caminhada compartilhada. A igreja, com todas as suas imperfeições, é o instrumento escolhido por Ele para nutrir discípulos, celebrar a graça e transformar o mundo. Abrir mão dela é perder parte essencial da identidade cristã.  


Para quem se sente desiludido, a resposta não é o afastamento, mas buscar uma comunidade onde Cristo seja o centro — mesmo que pequena ou não tradicional. Como escreveu Dietrich Bonhoeffer: *"O cristão precisa de outros cristãos. Ele os ouve em Cristo e, por meio deles, Cristo o serve"*.  


Aos que insistem em seguir sozinhos, vale o lembrete: até mesmo Elias, que pensava estar isolado em sua fé, descobriu que Deus havia reservado "sete mil que não dobraram os joelhos a Baal" (1 Reis 19:18). A comunhão não é opcional; é um mandamento amoroso de um Pai que sabe que, sozinhos, definhamos.  Como disse Paulo: “Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros, e esses membros não exercem todos a mesma função, assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros"* (Romanos 12:4-5).  

Obrigado Jesus pela Tua igreja onde podemos ser consolados, instruídos, abençoados e abençoadores e amados…

Amém, Glória a Deus pela igreja de Jesus!