DEUS NÃO É INCOERENTE

Deus não é só Deus da Palavra, 

mas também Deus de palavra.


Quem se propõe a escrever um texto ou uma redação, deve ficar atento ao que se chama coerência textual. A falta de coerência afeta a significação do texto, prejudica a relação com o interlocutor, a continuidade dos sentidos e compreensão. A incoerência, que é o oposto da coerência, ocorre quando dentro do texto existem ideias que se contradizem. 


Um exemplo de incoerência textual (pode acontecer também em filmes, novelas, etc) é quando se afirma alguma coisa  e depois, mais adiante, se contradiz, ou seja, por exemplo, diz-se que alguém é uma pessoa muito crente, de fé. Depois, diz-se que ela não ora, não lê a Bíblia e não gosta de ir à igreja. Um outro exemplo de incoerência textual é quando se descreve uma pessoa como muito sábia e inteligente, e depois você diz que ela não sabe contas básicas de matemática por exemplo. 


Podemos citar também como exemplo de incoerência, não textual, mas de atitude o apóstolo Pedro, que chegou a puxar a espada e ferir uma pessoa para defender Jesus e que também, quando Jesus disse que ia ser crucificado e morto, ele disse que morreria com Jesus. No entanto, algum tempo depois negou Jesus três vezes. Veja bem, a incoerência aqui não é da Bíblia mas de uma pessoa, no caso Pedro.


Contudo, o foco aqui não é a incoerência de personagens bíblicas, mas queremos  mostrar que o nosso Deus e a Bíblia Sagrada não são incoerentes. Quando analisamos a Bíblia como um todo, ela é sempre coerente com o que ela afirma sobre os atributos e as atitudes de Deus para conosco. 


Por exemplo, a Bíblia fala dos atributos de Deus e diz que Ele nos ama, diz mais ainda, que Deus é amor e quando analisamos as Escrituras vemos constantemente Deus dando demonstrações do seu amor através de atitudes concretas e até de muitos milagres para proteger o seu povo, a ponto de descer à terra como humano para nos salvar, demonstrando, assim, coerência entre o que Deus fala na Bíblia e o que ele faz. O Senhor mesmo afirma que tem planos para o nosso bem: 11Porquanto somente Eu conheço os planos que determinei a vosso respeito!’, declara Yahweh, ‘planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dor e prejuízo, planos para dar-vos esperança e um futuro melhor. 12Então me invocareis e chegareis a mim para orar, e Eu vos darei toda a atenção.…Jer 29. 


Portanto, Deus não é só Deus da Palavra, mas também Deus de palavra. Ou seja, Ele vela para cumprir aquilo que Ele inspirou as pessoas a escreverem na Bíblia. É claro que Deus e a Bíblia não poderiam ser incoerentes, por que foi Deus quem deu voz ao ser humano quando o criou, e foi Ele também que inspirou esse mesmo ser humano a escrever a Bíblia. Deus, definitivamente, não tiraria zero em uma redação. 


Quero agora destacar algumas interpretações da Bíblia, estas sim, incoerentes. Muitos teólogos acusam nosso Deus de ter criado um ser humano robotizado, sem capacidade de agir livremente. Ou seja, dizem que Ele criou marionetes que são manipuladas em tudo por Deus. Portanto, afirmam que não temos livre arbítrio e tudo que fazemos, mas tudo mesmo, é DETERMINADO por Deus, e que até mesmo nossos pecados são determinados por Deus. Ou seja, para eles, mesmos que não quiséssemos seríamos obrigados a pecar e mesmo assim somos punidos por esses pecados que fomos obrigados a cometer. Dizem, que Armínio falou que se isso é verdade, então, Deus é o único pecador do universo. Alguém já disse que se Deus age assim, Ele é mais traiçoeiro que a serpente no paraíso. 


Esse pensamento é uma total incoerência com o que a Bíblia diz sobre os atributos, ou seja, sobre o caráter de Deus, e também, sobre o que ela revela do cuidado que Ele tem com seus filhos. 

Esses teólogos dizem também que Deus escolhe quem vai para o céu ou para o inferno, sem deixar claro qual o critério que Ele adota para agir assim. Incluindo aí até uma criancinha que tenha vivido poucas horas, mas já pode estar condenada ao fogo eterno e a nós não é permitido saber por quê. Sendo assim, a pessoa crê em Jesus porque já nasceu salva (ou seja eleita) e não  para ser salva. Ou seja não é Jesus quem salva. 


Diante disso, alguém já disse que se for assim o cristianismo é como o sistema de castas da Índia. Lá, se você nasceu numa casta inferior, já era. Terá que se conformar. Na Índia, pelo menos, a pessoa sabe a que casta pertence, agora nesse sistema de eleição ou rejeição desses teólogos, a pessoa não sabe se é eleita ou não, só vai sabê-lo depois da morte.


Esse pensamento de que Deus privilegia alguns e menospreza outros não está de acordo com algumas passagens das escrituras que dizem que Deus não faz acepção de pessoas. O próprio apóstolo Paulo afirma que virá tribulação e angústia sobre quem faz o mal e  para quem faz o bem, virá glória, honra e paz, pois Deus não faz acepção de pessoas: Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o mal, ao judeu primeiro e também ao grego; glória, porém, e honra, e paz a todo aquele que pratica o bem, ao judeu primeiro e também ao grego. Porque para com Deus não há acepção de pessoas. Romanos 2:9-11. (grifo nosso)


Por outro lado, quando observamos alguns atributos de Deus na Sua palavra, como: Deus é amor, é transbordante de amor, tem amor leal e eterno, bondoso em tudo que faz, bom para todos, é misericordioso, abençoador, compassivo com todas as criaturas (compaixão é colocar-se no lugar do outro), protetor, perdoador, abençoador,  não decepciona quem nele confia, fiel, longânimo, protetor, JUSTO, e muitos outros atributos de bondade; percebemos que esses atributos não combinam definitivamente com um Deus que determina que uma pessoa peque e a castiga por ter pecado. Alguns chegam a dizer que foi Deus quem determinou que Adão pecasse e mesmo assim o castigou e à humanidade. Da mesma forma um Deus que dá a vida a uma pessoa simplesmente para que ela vá para o inferno sem nenhuma opção antecipada de se salvar, é inteiramente incoerente com o Deus amoroso e abençoador. Ainda mais, se ele exige de nós reles mortais pecadores que sejamos imparciais, perdoadores, justos e que amemos nosso próximo como a nós mesmos; é claro que Ele também age assim, com amor.


Os defensores desse pensamento determinista alegam que se o ser humano tiver livre arbítrio, Deus estará deixando de ser soberano. No entanto, observemos que Deus, quando criou o homem e o colocou no paraíso, deu-lhe autonomia para dominar a terra. Será que Deus deixou de ser soberano por causa disso?Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra. Gênesis 1:26,28


Quanto a essa ideia de predestinação, ou destino, em que tudo que acontece com cada ser humano, mas tudo mesmo, é determinado por Deus, até os mínimos detalhes; veja o pensamento que é atribuído a um grande cientista:

“Não sei porque o Calvinista olha para os dois lados, quando vai atravessar a rua, se tudo está predestinado.  Stephen William Hawking”


Deus não revogou essa autonomia do ser humano sobre a terra. Ele confirmou isso para Noé muito tempo depois da queda de Adão: “Sede o medo e o pavor de todos os animais da terra e de todas as aves do céu, como de tudo o que se move na terra e de todos os peixes do mar: eles são entregues em vossas mãos.” Gn 9.2 . Tiago e Salmos também confirmam esse domínio ( Ti 3.7-8 e Sl 8.6-9). 


Além do mais, há passagens na Bíblia em que o próprio Senhor Deus diz que os homens estão fazendo aquilo que ele não planejou para eles e que ‘jamais Lhe veio à mente’: ““Os de Judá fizeram o que eu reprovo”, declara o Senhor. “Profanaram o templo que leva o meu nome, colocando nele as imagens dos seus ídolos. Construíram o alto de Tofete no vale de Ben-Hinom, para queimarem em sacrifício os seus filhos e as suas filhas, coisa que nunca ordenei e que jamais me veio à mente. (Grifo nosso)”Jeremias 7:30-31 NVI. Se quiser pode consultar outras passagens em que Deus diz que eles estavam fazendo aquilo que ele não queria, e que ele chega a dizer que odeia: Je 7.24-28; 35.15; 11.7-8; 25.3-7; Dt 12.31; 2ºRe 17.17


É necessário que entendamos que autonomia não é soberania. Por exemplo, uma grande empresa, como um banco, que tem filiais em várias cidades, elas têm gerentes nessas cidades que têm autonomia para agir. Mas, esses gerentes têm que prestar contas à direção geral. Para isso, eles têm manuais de conduta da firma a que devem obedecer. Caso eles desobedeçam o manual, a direção-geral fará intervenção na loja. Isso é o que acontece conosco. Nós somos mordomos de Deus aqui na terra e temos um manual para nos orientar, que é a Bíblia Sagrada, mas o Senhor continua soberano e, quando  acha necessário, Ele intervém como fez com Adão no paraíso.  

Para confirmar que Deus nos quer bem, mesmo quando somos infiéis e abusamos do livre arbítrio, Ele diz que o seu coração se comove quando, como um pai, precisa corrigir seus filhos, mas se recorda deles com muito carinho: 20Não é Efraim o meu filho amado? O filho em quem tenho prazer? Cada vez que Eu falo sobre (contra) Efraim mais me recordo dele com grande carinho (ternura). Por este motivo, o meu coração se comove (compadece, anseia) por ele e lhe ministrarei a minha total compaixão.”, afirma o SENHOR. Jeremias 31. (Veja também Oseias 11.8-9) 


Portanto, nosso Deus não é um aloprado que diz uma coisa e faz outra. Ou seja, Ele diz que a maior prova de que não nos ama só de palavras e quer nos salvar, foi ter enviado Seu filho Jesus para sofrer, ser humilhado e morrer em nosso lugar para salvar todo aquele que nele crê. A Bíblia diz em Romanos que a morte de Jesus por nós não foi só um ato de amor mas também a PROVA, o testemunho, desse amor de Deus por toda a humanidade e não só pelos eleitos: 


“Mas Deus PROVA o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.  

Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Romanos. 5.8,18  (grifo nosso).


Amém! Glória a Deus! Que o Senhor tenha misericórdia de nós!

Pense nisso!

Lúcio Barreto (pai)