Eu sou a videira verdadeira (Jo 15:1 a 10)
A metáfora da videira e dos ramos em João 15 é uma das imagens mais profundas que retrata o relacionamento entre o cristão e Jesus. O instinto humano pela fonte da vida é característica da vida. “Sem ligação com Jesus, nada podemos produzir.” Esta declaração de João 15:5 é, ao mesmo tempo, uma das mais desafiadoras e libertadoras de toda a Bíblia. Ela confronta nossa autossuficiência mais profunda, nosso impulso moderno de produtividade e auto-realização, ao mesmo tempo que oferece o antídoto para a ansiedade, o esgotamento e a esterilidade espiritual. Jesus está falando de um tema importantíssimo para o cristão, que é a conexão com Ele, e não só a aproximação, como muitos pensam. E a ideia principal é permanecer. Não se trata de um mero acessório da vida cristã; é a sua própria essência.
Essa poderosa declaração de Jesus é uma das mais ricas e simbólicas de todo o Evangelho de João. Ela fala de vida, conexão, dependência e propósito. Jesus se apresenta como a videira verdadeira, e nós, como os ramos. A ideia central dessa passagem pode ser resumida em uma única palavra: permanecer. É o chamado de Cristo para que vivamos ligados a Ele continuamente, sem rupturas, sem distâncias, sem desvios.
Permanecer significa muito mais do que uma permanência física ou uma adesão intelectual a um conjunto de crenças. Implica residir, habitar, continuar presente, não se afastar. É uma palavra que fala de intimidade, constância e dependência vitalícia. Pense em sua casa: não é um lugar que você visita ocasionalmente; é onde você vive, onde está enraizado, onde encontra repouso e sustento. Jesus não está convidando seus discípulos para uma visita de fim de semana, mas para uma mudança de endereço permanente: “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós”. Usando a metáfora de um peixe no mar que para onde quer que ele se vire ele está na água. Assim deve ser o cristão, sempre estar em Cristo.
Esta é a resposta ao instinto humano fundamental. Todos nós, conscientemente ou não, buscamos fontes de vida. Buscamos significado no sucesso, segurança no acúmulo de bens, identidade nas relações ou no trabalho, e prazer em uma miríade de distrações. Entretanto, o espírito humano, desconectado de Cristo, definha numa morte lenta e infrutífera, mesmo que a aparência externa ainda pareça impressionante, pareça sucesso.
Os ramos, por si mesmos, não têm vida. Se forem cortados, murcham rapidamente. Um galho separado da videira não apenas deixa de dar frutos, mas morre. Assim também é o cristão: sem ligação viva e constante com Cristo, nada pode produzir. Podemos ter aparência de religiosidade, boas intenções, dons e talentos, mas sem a seiva espiritual de Jesus fluindo em nós, tudo isso se torna estéril.
Isso revoluciona nossa compreensão da vida espiritual e do dar frutos. Muitas vezes, nos esforçamos ansiosamente para produzir mais amor, mais alegria, mais paz, mais paciência (os frutos do Espírito listados em Gálatas 5). Tentamos fingir que temos paciência até que ela se esgote, ou forçar sentimentos de alegria em meio à tristeza. Essa abordagem leva ao fracasso e à culpa. A mensagem de Jesus é diferente: “Permaneça em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim” (João 15:4).
O fato é que Jesus estava preparando seus discípulos para uma nova realidade. Ele, a presença física e tangível, iria partir. Como, então, eles (e nós) manteriam essa conexão vital? A resposta está na realidade espiritual que transcende o físico. A videira não precisa ser vista para que o galho receba sua seiva. As raízes estão ocultas no solo, mas sua função é inegável.
Da mesma forma, a partida física de Jesus não significou um abandono, mas uma transição para uma forma de relacionamento mais profunda e universal, mediada pelo Espírito Santo. O Espírito é o condutor da seiva divina, o agente que nos conecta à videira viva que é Cristo. É através da oração, da meditação nas Escrituras, da comunhão com outros crentes e da obediência amorosa que nos “posicionamos” para receber esse fluxo constante. É nesses hábitos espirituais que exercemos a arte de permanecer.
Quando dedicamostempo em meditar na Sua Palavra, não estamos apenas acumulando informação; estamos abrindo os canais para que Sua mente molde a nossa. Quando oramos, não estamos apenas fazendo pedidos; estamos confirmando nossa dependência e nos alinhando com a Sua vontade. A comunhão nos lembra que não somos ramos isolados, mas parte de um único organismo, uma videira que é coletiva. E a obediência, longe de ser um legalismo opressivo, é o ato prático de confiar que os “cortes” do divino Agricultor (João 15:2) – as podas que doem, mas são necessárias – visam nosso bem maior: que demos “mais fruto ainda”.
A vida cristã, portanto, deixa de ser um pesado fardo de performance religiosa e se torna um repouso confiante em uma Fonte inesgotável. A pergunta “Como posso dar mais frutos?” é respondida não com uma lista de tarefas, mas com um convite: Permaneça.
A ansiedade de produzir cede lugar à paz de permanecer. A comparação com outros ramos perde o sentido, pois cada um tem sua posição única e recebe a seiva de forma personalizada. A frustração por não ver frutos imediatos é substituída pela paciência de quem confia no processo de crescimento dirigido pelo Agricultor celestial.
No final, permanecer em Cristo é a realização mais plena daquele instinto que habita todo coração humano: o anseio por uma Fonte de vida que não se esgota, por uma segurança que não pode ser abalada, e por uma identidade que não é baseada em nossos feitos, mas em nosso ser – ramos amados, sustentados e frutíferos, vitalmente conectados à Videira verdadeira. É na arte simples e profunda de permanecer que descobrimos quem realmente somos e, paradoxalmente, produzimos muito mais do que jamais poderíamos imaginar ou realizar por nossas próprias forças.
Permanecer em Jesus é a essência da vida cristã. Ele é a fonte da nossa força, da nossa paz e da nossa alegria. Quando vivemos conectados à Videira verdadeira, tudo o que fazemos ganha sentido. Nosso caráter é moldado, nossos relacionamentos são transformados e nossa vida se torna uma bênção para os outros.
Portanto, dependemos de Jesus para tudo, começando pela nossa própria vida — "Porque nele vivemos, nos movemos e existimos" ( Atos 17:28 ) — e incluindo a nossa reconciliação com Deus por meio dele ( Romanos 5:10 ). Ninguém pode servir a Deus eficazmente até que esteja conectado a Jesus Cristo pela fé. Jesus é a nossa única conexão com o Deus que deu a vida e que produz em nós uma vida frutífera de justiça e serviço. E Jesus está à “porta e bate”, deixe-o entrar e seja transformado.
Glória ao Deus pai, Deus filho e o Deus Espírito Santo.
Amém!

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