"EU SOU O BOM PASTOR...”
João 10:11
Essas palavras de Jesus, registradas no Evangelho de João, contêm uma verdade profunda sobre o relacionamento de Deus com a humanidade. Deus vê em nós algo além do nosso pecado — uma valor que deriva de sermos criados à Sua imagem. Através da metáfora do Bom Pastor, Jesus revela a natureza desse amor incompreensível: um amor que não apenas declara nosso valor, mas que voluntariamente assume sobre si todas as consequências do nosso pecado para nos resgatar. Este texto explorará as dimensões desse cuidado pastoral que se manifesta em sacrifício, conhecimento íntimo e guia segura.
A figura do pastor no ministério de Jesus não é acidental, mas uma revelação cuidadosamente elaborada de Seu caráter e missão:
- Ele é pastor que se sacrifica, diferente do mercenário que foge ao avistar o perigo, Jesus, o Bom Pastor, declara: "dou a minha vida pelas ovelhas". Esta não foi uma morte acidental, mas um ato voluntário e consciente — "Ninguém a tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou". Ele escolheu carregar sobre Si as consequências do nosso pecado, que são a morte e a separação da presença de Deus, para nos oferecer reconciliação.
- É o pastor que conhece e é conhecido. Jesus elabora: conheço as minhas ovelhas, e as que são minhas, me conhecem a mim. Esse conhecimento não é superficial; é um reconhecimento profundo e relacional, semelhante ao próprio relacionamento entre o Pai e o Filho. Na prática contemporânea, assim como as ovelhas reconhecem a voz do seu pastor dentre muitas outras, nós somos chamados a discernir a voz de Cristo no meio de tantas vozes que clamam por nossa atenção — falsos profetas, falsos ensinos e os valores distorcidos deste mundo.
-Jesus é o pastor que busca e unifica. Jesus declarou ter outras ovelhas que não são deste aprisco, indicando que Seu cuidado pastoral se estende além das fronteiras de Israel, alcançando pessoas de todas as nações. Sua missão era e é trazer todas elas, para que haja um rebanho e um pastor.
O amor do Bom Pastor não é uma teoria abstrata, mas uma realidade prática que se manifesta em ações concretas e no cuidado diário com Suas ovelhas. O pastor conhece cada ovelha pelo nome, compreende suas limitações, reconhece seus medos e identifica suas necessidades mais profundas. Esse conhecimento não se baseia em aparências externas — Ele não é enganado por aparências ou palavras. Esse conhecimento deve nos trazer profunda segurança, somos totalmente conhecidos e, ainda assim, incondicionalmente amados. Não há nada que possa ser escondido d'Ele, e mesmo assim Ele não nos abandona.
O pastor está sempre alerta contra perigos. Ele vê vir o lobo e não foge, mas enfrenta a ameaça para proteger o rebanho. Em nossa jornada espiritual, os "lobos" assumem diversas formas: tentações que nos assediam, falsas doutrinas que distorcem a verdade, cinismo que corrói nossa fé e as consequências degradantes do pecado que nos enfraquecem espiritualmente. O Bom Pastor nos guarda desses perigos, fornecendo refúgio em Seu cuidado.
Através de Sua Palavra e do Espírito Santo, o Bom Pastor nos guia pelos caminhos da justiça (Salmo 23). Sua orientação nem sempre nos leva por atalhos fáceis, mas sempre por rotas que nos conduzem ao crescimento espiritual e à maturidade. Quando, como ovelhas teimosas, nos desviamos do caminho e sofremos as consequências de nosso pecado —culpa, fraqueza espiritual e alienação de Sua presença —, Ele não nos abandona à nossa sorte, mas busca nos trazer de volta ao rebanho.
Imagine uma ovelha que, em um momento de distração, afasta-se do rebanho. Em sua curiosidade, busca um caminho que parece mais verdejante, mas logo se encontra perdida, enredada em espinhos e incapaz de retornar. A noite chega, e com ela o frio e o medo. Seu desvio não foi dramático — apenas alguns passos fora da vista do pastor — mas suficientes para colocá-la em perigo.
Enquanto isso, o pastor percebe sua falta. Ele não espera que a ovelha encontre o caminho de volta sozinha. Ele deixa as noventa e nove e adentra a escuridão, arriscando sua própria segurança. Ele a busca incansavelmente, até encontrá-la ferida e imobilizada. Com mãos firmes, ele a liberta dos espinhos, coloca-a sobre seus ombros e a conduz de volta à segurança do rebanho. Não há repreensão, mas alegria pelo resgate — alegria de pastor e de comunidade (Lucas 15:3-7). Esta ilustração retrata fielmente nossa condição, nos perdemos facilmente, mas nosso Pastor nos busca incansavelmente, cura nossas feridas e celebra nosso retorno.
Diante de um amor tão profundo, somos convidados a uma resposta prática e transformadora. Ouvir e seguir Sua voz. Em um mundo com inúmeras vozes competindo por nossa atenção, devemos cultivar a sensibilidade espiritual para discernir a voz do Pastor. Isso acontece através da leitura e meditação nas Escrituras, que são nossa bússola, nossa regra de fé e prática.
Devemos viver em confiança e entrega. Podemos descansar na certeza de que Aquele que deu Sua vida por nós continuará a prover, proteger e guiar. Essa confiança nos permite entregar a Ele nossas ansiedades, medos e falhas.
Precisamos amar como somos amados. O amor recebido deve transbordar para os outros. Na Parábola das Ovelhas e dos Bodes (Mateus 25:31-46), Jesus ensina que o amor genuíno por Ele se manifesta no cuidado prático pelos mais pequenos — dar comida ao faminto, água ao sedento, visitar o doente e o preso. Estas boas obras não são a causa, mas o efeito natural de um relacionamento verdadeiro com o Pastor.
O amor do Bom Pastor, Jesus, é, de fato, surpreendente. É um amor que nos valoriza além de nossa compreensão, e que nunca nos abandona, mesmo quando nos perdemos em nossos próprios caminhos. Ele é o Pastor que se fez Cordeiro, assumindo sobre Si o que era nosso para nos dar o que era d'Ele.
Que possamos, cada dia, repousar na segurança desse cuidado, aprender a ouvir Sua voz que ecoa através dos tempos na Bíblia: “Quem crer e for Batizado será salvo, mas quem não crer será condenado”. Marcos 16:16
Glória a Jesus. Amém!
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