JESUS E A CONTRACULTURA EM PALAVRAS E ATITUDES
Quando Jesus declarou, conforme registrado em Marcos 9:35, “Se alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos”, e mais tarde reiterou aos discípulos ambiciosos em Marcos 10:43-44, “... quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos”, Ele não estava apenas oferecendo um conselho de etiqueta para a liderança. Ele estava proclamando um manifesto revolucionário. Era a fundação de um reino invertido, uma contracultura radical que desmantelava por completo as estruturas de poder, sucesso e valor aceitas e praticadas pelo mundo e implantação de uma visão humanitaria e de amor nos relacionamentos em geral.
A sociedade de então, assim como a nossa, operava sob uma lógica de domínio. A grandeza era medida pela capacidade de exercer controle, acumular riquezas, comandar exércitos e ser servido. Os discípulos, imersos nessa cultura, discutiam sobre quem ocuparia os postos mais importantes ao lado de Jesus que, em sua visão, restauraria o trono político de Israel. Jesus, porém, pega essa pirâmide de poder e a vira de cabeça para baixo. No Reino que Ele anuncia, o ápice não é ocupado por quem manda, mas por quem serve; a honra máxima não é para quem é aplaudido, mas para quem lava os pés sujos dos outros.
E Ele mostrou essa visão de contracultura do mundo com palavras e atitudes dEle. Esta inversão de valores não foi um comentário isolado. Foi o tema central de Sua vida e ministério, manifestando-se de forma poderosa em outras falas e atitudes emblemáticas.
Nas Bem-aventuranças (Mateus 5:3-12), o sermão inaugural de Jesus, é talvez a sua declaração de contracultura mais explícita. Ele faz proclamações que deixam atônitos os ouvintes. Ele diz felizes os pobres de espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os pacificadores e os perseguidos. Em um mundo que beatifica os autossuficientes, os bem-sucedidos, os agressivos e os popularmente aceitos, Jesus coloca a verdadeira felicidade no lugar da vulnerabilidade, da compaixão e da integridade, mesmo que isso custe o sofrimento. Enquanto o mundo exalta “o macho alfa”, o vitorioso pelo esforço próprio, Jesus exalta a compaixão e o amor.
A Parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37): Aqui, Jesus subverte expectativas religiosas e sociais. A figura heroica da história não é o sacerdote ou o levita – os representantes da religião estabelecida e “pura” –, mas um samaritano, membro de um grupo étnico e religioso desprezado e considerado herege pelos judeus. A mensagem é devastadora: a verdadeira espiritualidade e humanidade não residem na religiosidade ritual, mas na compaixão prática e transgressora que ignora barreiras de raça, religião e status social para cuidar do outro.
Jesus em (Mateus 5:43-48) prega o perdão e o amor até aos inimigos. A lei de Talião (“olho por olho, dente por dente”) era um avanço para a época, pois limitava a vingança. Jesus, no entanto, vai infinitamente além. Ele não propõe uma justiça equilibrada, mas um transbordamento de graça. “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam”, Ele ordena. Enquanto a cultura prega a retaliação e a defesa agressiva de seus direitos, a contracultura do Reino prega uma amor ativo que quebra o ciclo de violência e desarma o agressor com bondade. Ele mesmo exemplificou isso na cruz, suplicando: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
A mulher adúltera de (João 8:1-11) que uma multidão armada com pedras, já pensando em apedrejá-la, trouxe até Ele, para pô-lo à prova e Jesus dá uma lição desconcertante neles. Ele faz algo subversivo: Ele humaniza. Ao escrever na areia e dizer “aquele que estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. Ele desvia o foco da mulher (o alvo fácil) para a consciência de cada acusador. Ele não compactua com o pecado, mas redefine a justiça, transformando-a de condenação pública em oportunidade de restauração íntima (“Vai e não peques mais”).
Na noite anterior à sua morte, Jesus realiza a suprema dramatização de seus ensinamentos. Vestido com a autoridade de Mestre e Senhor, Ele assume a função do escravo de mais baixa categoria (João 13:1-17). Pedro fica escandalizado. Era uma inversão de papéis inaceitável. Mas Jesus deixa claro: “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros”. A liderança máxima é expressa no serviço mais humilde.
Os princípios do Reino invertido de Jesus não são relíquias do passado. Eles se aplicam de forma desafiadora e transformadora ao nosso dia a dia. Pode ser no trabalho. Pode ser um líder corporativo que, em vez de se isolar em uma sala executiva, circula pela empresa, conhece pelo nome os estagiários e funcionários da limpeza, ouve suas dificuldades e busca servir sua equipe para que ela possa performar melhor, está praticando a contracultura. A grandeza se mede pelo sucesso coletivo que ele possibilitou, não pelo tamanho de seu bônus. Ou então nas redes sociais. Que é um ambiente que valoriza a cancel culture, a humilhação pública, a construção de personas perfeitas e a busca desesperada por likes (uma forma moderna de status), a contracultura cristã se manifesta ao escolher abençoar quem nos amaldiçoa, perdoar publicamente, admitir vulnerabilidades e erros com honestidade, e usar a plataforma para elevar os outros, não a si mesmo. Esses princípios devem estar presentes nos conflitos familiares. A regra natural em uma discussão é querer ter razão, gritar mais alto e vencer o argumento. A contracultura do Reino é buscar entender primeiro, pedir desculpas mesmo quando se tem apenas parte da culpa, e colocar a harmonia e o bem-estar do relacionamento acima da necessidade de vencer a briga. É escolher servir à unidade da família, não ao próprio ego. Finalmente devem ser características no consumo e no nosso estilo de vida. Numa sociedade que prega que “quem tem mais é mais”, e que incentiva o consumo desenfreado como sinal de sucesso; viver com simplicidade, ser grato pelo que se tem, evitar o desperdício e fazer doações generosas e anônimas é um ato revolucionário. É declarar que o valor de uma pessoa não está no que ela possui, mas em quem ela é e no que ela compartilha.
Portanto, a contracultura de Jesus não é sobre ser diferente por ser. É uma resposta profunda à pergunta: “Como o Reino de Deus, regido pelo amor ágape, se manifesta em um mundo caído, regido pelo egoísmo e pela sede de poder?”. Sua visão de liderança-servidão é o cerne dessa revolução. Ela exige uma coragem imensa, pois significa abrir mão do controle e confiar que, no paradoxo do Evangelho, é ao nos humilharmos que somos exaltados por Deus; é ao perder a vida por amor que verdadeiramente a encontramos. É um chamado para construir, nas pequenas ações do cotidiano, os alicerces de um mundo novo, onde o último será, de fato, o primeiro.
Obrigado Jesus, por que o Senhor não só nos ensinou mas praticou para que pudessemos seguir o Teu exemplo. O senhor veio morrer por nós, mesmo sendo ainda pecadores, e pela sua graça são salvos todos aqueles que atendem ao apelo do Senhor: “aquele que crer e for batizado será salvo”.
Obrigado Jesus. Louvado seja o teu nome!
Amém!

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