BRINCANDO COM O PECADO
“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”
Eduardo Alves da CostaNota: Trecho do poema "NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI", muitas vezes erroneamente atribuído a Vladimir Maiakóvski. O poeta Eduardo Alves da Costa garantiu que Maiakóvski nada tem a ver com o poema, na Folha de São Paulo, edição de 20.9.2003
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O poema apresentado retrata, de forma metafórica, a progressão sutil da opressão e a consequente perda da voz humana diante do mal que se instala gradualmente. A cada noite, os invasores avançam em suas ações — começando com o roubo de uma flor, passando pela destruição do jardim e do cão, até chegar ao roubo da luz e da própria voz. A narrativa evidencia como a passividade diante de pequenas transgressões abre caminho para a tirania, até que não reste mais força para reagir. À luz da Bíblia e da experiência humana, esse processo ecoa verdades profundas sobre a natureza do pecado, a responsabilidade moral e a necessidade de coragem para confrontar o mal.
Na astúcia de satanas, ele vai aos poucos introduzindo o pecado na vida do crente incauto. A Bíblia ensina que o pecado raramente se manifesta de forma abrupta. Assim como no poema, ele começa com pequenas concessões. No Jardim do Éden, Adão e Eva não foram tentados inicialmente a cometer um crime hediondo, mas a questionar sutilmente a Palavra de Deus: *"É assim que Deus disse...?"* (Gênesis 3:1). A serpente não lhes ofereceu imediatamente o fruto, mas plantou dúvidas, corroendo sua confiança. Quando deram espaço àquela primeira desobediência — o equivalente a "não dizer nada" diante do roubo da flor —, abriram as portas para a ruptura completa com Deus. O pecado, uma vez acolhido, vai progredindo, partindo da semente e tornando-se um fruto venenoso.
O apóstolo Tiago descreve esse processo: *"Cada um é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte"* (Tiago 1:14-15). O silêncio diante do mal, mesmo em suas formas aparentemente insignificantes, é um terreno fértil para que a injustiça cresça. No poema, permitido que os invasores avancem porque subestima o perigo das primeiras ações. Da mesma forma, na vida espiritual, pequenos pecados não confessados ou justificados — como a indiferença ao sofrimento alheio, a mentira "inocente" ou a omissão covarde — podem endurecer o coração (Hebreus 3:13), até que a luz da consciência se apague.
Nós, como um sentinela, devemos estar sempre vigilantes quanto as atitudes insanas de satanás que parecem, a princípio, inocentes. Jesus advertiu seus discípulos: *"Vigiai e orai, para que não entreis em tentação"* (Mateus 26:41). Vigilância implica reconhecer os primeiros sinais de perigo. No contexto do poema, a primeira noite — o roubo de uma flor — poderia ser vista como um teste dos limites. Os invasores verificam até onde podem ir sem enfrentar resistência. Na vida prática, isso se assemelha às situações em que cedemos a pressões sociais, éticas ou morais para evitar conflitos. Por exemplo, calar-se diante de uma piada acerca do evangelho ou preconceituosa, omitir a verdade para proteger uma posição ou aceitar práticas corruptas em nome do "bem maior".
Os profetas do Antigo Testamento eram vozes que confrontavam justamente essa complacência. Jeremias, por exemplo, denunciava o povo de Judá por tolerar a idolatria e a injustiça social (Jeremias 7:9-11). Isaías clamava: "Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal!" (Isaías 5:20). A mensagem é clara: não há neutralidade no combate ao mal. O silêncio diante da injustiça é cumplicidade.
Muitas vezes o medo nos Silencia. Quando a Autopreservação Supera a Integridade. Temos medo de desagradar os “colegas” ou familiares, ou de perder o emprego. O poema menciona que os invasores, "conhecendo nosso medo", arrancam a voz da garganta. O medo é um dos maiores aliados da opressão. Na Bíblia, inúmeras vezes Deus exorta seu povo a não temer, pois o temor paralisa a fé e a ação. Quando os espias retornaram de Canaã com relatos assustadores sobre gigantes, o povo de Israel preferiu voltar para o Egito (Números 13-14). O medo os impediu de entrar na Terra Prometida. Da mesma forma, Pedro negou Jesus três vezes por medo de ser associado a um condenado (Mateus 26:69-75).
Contudo, a Escritura também mostra exemplos de coragem nascida da confiança em Deus. Daniel continuou orando mesmo sob ameaça de morte (Daniel 6:10). Ester arriscou a vida para interceder por seu povo (Ester 4:16). Essas narrativas revelam que a voz só é perdida quando permitimos que o medo domine. Como escreveu Paulo: *"Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação"* (2 Timóteo 1:7).
No clímax do poema, os invasores roubam a luz. Na Bíblia, a luz simboliza a presença de Deus (Salmo 27:1), a verdade (João 3:21) e a esperança (Isaías 9:2). Quando permitimos que o mal avance, corremos o risco de perder nossa conexão com Deus e nossa identidade como filhos da luz (Efésios 5:8). A escuridão espiritual não surge do nada — é resultado de uma série de escolhas passivas.
Jesus alertou: *"Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha"* (Mateus 12:30). A neutralidade não existe no reino espiritual. Cada vez que nos calamos diante de uma injustiça, permitimos que as trevas ganhem espaço. A luz da consciência, da compaixão e da fé precisa ser alimentada diariamente através da oração, da prática da justiça e da comunhão com Deus.
O poema termina com uma comunidade muda, incapaz de reagir. Na vida real, esse desfecho não é inevitável. A Bíblia nos convida a ser sal da terra e luz do mundo (Mateus 5:13-16) — agentes ativos na preservação do bem. Isso exige coragem para enfrentar não apenas as grandes crises, mas também as pequenas concessões que as precedem.
Em Eclesiastes 3:7, lemos que há "tempo de calar e tempo de falar". Saber discernir esses momentos é crucial. Quando testemunhamos o mal, seja em escala social ou pessoal, nossa voz — sustentada pela verdade e pelo amor e pelo poder do Espírito Santo — pode ser instrumento de transformação. Como escreveu Dietrich Bonhoeffer, mártir cristão que confrontou o nazismo: "O silêncio diante do mal é o próprio mal. Quem não denuncia o mal, participa dele".
Que possamos, portanto, cultivar a coragem de falar quando a primeira flor é roubada, confiando que "o Senhor é a nossa luz e a nossa salvação; de quem temeremos?" (Salmo 27:1). Assim, mesmo nas noites mais escuras, nossa voz permanecerá como testemunho da esperança que não se cala.
Portanto, que o SenhorEspírito Santo inunde-nos de ousadia para não nos calarmos diante do mal e pregarmos a palavra de Deus sem temor pois “maior é o que está em nós, do que o que está no mundo “. (1º João 4:4).
Glória a Deus!
Amém!
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